Obesidade, resistência à insulina e diabetes do tipo 2 em crianças e adolescentes

Com o aumento da obesidade infantil algumas doenças, que antes eram praticamente exclusivas de adultos, estão ficando cada vez mais comuns entre adolescentes e crianças. A obesidade infantil pode levar ao desenvolvimento de hipertensão (pressão alta), dislipidemia (níveis de gorduras altos no sangue), problemas nos vasos sanguíneos, resistência à insulina e diabetes do tipo 2. O aumento de diabetes do tipo 2 em crianças e adolescentes tem sido alarmante: estudos científicos mostram que até 45% de casos novos de diabetes diagnosticados em crianças e adolescentes são de diabetes do tipo 2. O diabetes do tipo 2 é causado pela combinação de duas causas principais: 1) a produção insuficiente de insulina pelo pâncreas (órgão responsável pela secreção desse hormônio) e 2) a resistência à insulina. A insulina é um hormônio que auxilia a entrada da glicose (açúcar) do sangue para os tecidos do corpo. A resistência à insulina acontece quando o pâncreas está produzindo uma grande quantidade de insulina, mas os tecidos respondem cada vez menos à sua ação, se tornando resistentes à esse hormônio. A resistência à insulina é mais prevalente em crianças obesas e com sobrepeso do que em crianças com peso normal, e meninas parecem apresentar mais esse problema do que meninos. Entre os fatores que levam à resistência à insulina na infância e adolescência estão o sobrepeso e a obesidade, sedentarismo e uma dieta inadequada. Se a resistência à insulina não for revertida, a criança e o adolescente obeso/com sobrepeso estará em maior risco de desenvolver doenças cardiovasculares e diabetes do tipo 2.  Para complicar, um aumento da resistência à insulina ocorre de forma natural durante a puberdade. Portanto, a puberdade pode aumentar a resistência à insulina de jovens obesos/com sobrepeso que já apresentam esse problema, aumentando o risco de desenvolverem o diabetes do tipo 2. Mas será que a criança ou adolescente obeso/com sobrepeso está “fadado” a ter complicações na vida adulta? A resposta é: não necessariamente, desde que este adulto não tenha desenvolvido até o momento atual um problema de saúde, como o diabetes! Um estudo com mais de 6 mil pessoas, que foram acompanhadas por cerca de 23 anos, mostrou que adultos com peso controlado, ainda que tenham sido obesos quando jovens, tem chances semelhantes às de adultos que nunca foram obesos de terem algum problema de saúde, como cardiovascular. Portanto, atenção: o comprometimento da família em estimular a criança a comer melhor e fazer exercícios físicos pode ser suficiente para reverter situações de obesidade/sobrepeso e de resistência à insulina. Quanto mais cedo houver a intervenção da família, melhor será o resultado na saúde da criança/adolescente e em sua vida adulta futura. Algumas referências utilizadas nesse texto: Diagnosis and treatment of obese children with insulin resistance. Tese de doutorado de Marloes P. van der Aa. Universidade de Leiden, de dezembro de 2016. P. Thota e colaboradores. Obesity-related insulin resistance in adolescents: a systematic review and meta-analysis of observational studies. Revista científica: Gynecological Endocrinology, de janeiro de 2017. M. Juonala e colaboradores. Childhood Adiposity, Adult Adiposity, and Cardiovascular Risk Factors. Revista científica: The New England Journal of Medicine, de novembro de 2011. Cree-Green, M. e colaboradores. Etiology of Insulin Resistance in Youth with Type 2 Diabetes. Revista científica: Current diabetes reports, de fevereiro de 2013. Pulgaron, E. R. Obesity and Type 2 Diabetes in Children: Epidemiology and Treatment. Revista científica: Current diabetes reports, de agosto de 2014.

Efeitos do hormônio do crescimento (GH) em jovens após o término do tratamento

O hormônio do crescimento, conhecido como GH (do inglês growth hormone), é um hormônio essencial para diversas funções em nosso organismo, inclusive para o crescimento adequado durante a infância e adolescência. Em alguns casos, com a condução de um endocrinologista pediatra, é necessário que a criança receba o tratamento com GH para que cresça normalmente. Um dos efeitos que a reposição com GH  poderá realizar em nosso organismo é diminuir a sensibilidade à insulina em tecidos periféricos(também conhecido como resistência à insulina), podendo causar um metabolismo inadequado da glicose, aumentado seu índices em nosso sangue (hiperglicemia). Uma pesquisa analisou se os efeitos do tratamento com GH na infância poderia prejudicar o metabolismo da glicose (açúcar no sangue) na vida adulta. Esta pesquisa analisou pessoas nascidas pequenas para a idade gestacional (PIG), e que foram tratadas com GH, a fim de buscar algum problema de saúde a longo prazo, que poderia estar associado ao tratamento prolongado com GH na infância e adolescência (aproximadamente 10 anos de tratamento). Esses jovens adultos tratados com GH foram monitorados no término do tratamento com GH e após 6 meses, 2 anos e 5 anos da interrupção do tratamento. Os pesquisadores descobriram que, após 5 anos de interrupção do tratamento, os jovens ganharam gordura em quantidade e distribuição semelhante às de jovens que não foram tratados com GH. Também foi observado que, de modo geral, os parâmetros que avaliavam a sensibilidade à insulina e o metabolismo de glicose melhoraram de forma significativa após o término do tratamento. Aquelas pacientes que tinha resistência à insulina foi revertida, o que reduz a preocupação com o desenvolvimento de Diabetes do tipo II. Essa pesquisa foi capaz de mostrar, com mais segurança, que o tratamento prolongado com GH não tem efeitos desfavoráveis na composição corporal e não parece aumentar a chance dos pacientes tratados com GH de desenvolverem Diabetes do tipo II. Apesar disto, deve-se monitorar os níveis de glicemia em todos os pacientes que fazem o tratamento com o GH.  Mais detalhes dessa pesquisa em: Manouk van der Steen e colaboradores. Metabolic health of young adults who were born small for gestational age and treated with growth hormone, after cessation of growth hormone treatment: a 5-year longitudinal study. Revista: The Lancet Diabetes & Endocrinology. Publicado online em dezembro de 2016.

As emoções da adolescência e o controle do diabetes

No post anterior, falamos sobre a influência do diabetes nas emoções e socialização da criança e do adolescente. Agora, iremos falar um pouco mais sobre a adolescência. Essa é uma época delicada, pois os pais ou cuidadores devem transferir suas responsabilidades no controle da glicemia para o adolescente. Sabendo que esse é um assunto difícil, a Associação Americana de Diabetes faz algumas sugestões: Na adolescência, o cuidado com o diabetes pode diminuir, assim como a comunicação com os membros da família. Na tentativa de se encaixar em grupos de amigos, o adolescente poderá esconder ou diminuir seus cuidados com o diabetes, especialmente no ambiente escolar. Nesses casos, é importante que médicos, família e amigos ajudem o adolescente, promovendo atitudes de cuidado e compromisso com sua saúde.  É preciso que os pais deleguem responsabilidades ao pré-adolescente ou adolescente conforme percebam que eles possuem uma maturidade adequada para isso. Transferir responsabilidades antes do tempo pode ocasionar um desequilíbrio no controle da glicemia. Converse com seu médico e inclua o pré-adolescente ou adolescente no diálogo sobre sua doença, para que eles possam, aos poucos, adquirir maturidade e comprometimento para a rotina de cuidados. Quando uma maturidade emocional for atingida, médico, família e adolescente podem desejar um ajuste nas condutas para o controle do diabetes. Com o passar dos anos, esse adolescente, em seu contexto familiar e social, irá adquirir desenvolvimento cognitivo para entender as consequências de seu comportamento sobre o diabetes e suas complicações. Assim como para qualquer outro aspecto da vida adolescente, manter uma relação de confiança com seu filho irá trazer benefícios, aumentando o controle da glicemia e possibilitando menos dificuldades ao lidar com as complicações do diabetes. Adaptado do artigo: Psychosocial care for people with diabetes: a position statement of the American Diabetes Association. Revista científica: Diabetes care. Publicado no volume 39, de dezembro de 2016. Acesse o artigo original: http://care.diabetesjournals.org/content/39/12/2126.