A baixa estatura na infância: desafios e escolhas – Parte 2

No artigo anterior discutimos sobre a baixa estatura, especialmente aquela relacionada à um padrão de baixa estatura familiar ou à um atraso no desenvolvimento. Para cuidar da baixa estatura, um endocrinologista pediatra poderá oferecer algumas opções de condutas e tratamentos: Acompanhamento: Apesar de poder se sentir mal ou sofrer bullying por causa de sua baixa altura, estudos mostram que o estresse psicológico nessas crianças e adolescentes não está, necessariamente, relacionado à baixa estatura em si. Outros estudos mostram que crianças e adultos com baixa estatura são psicologicamente saudáveis. Entretanto, pode ser que o estresse psicológico seja alto para a criança e para os pais, devendo-se considerar o acompanhamento por um psicoterapeuta e o tratamento com medicamentos. Tratamento com hormônio do crescimento (GH): pesquisas demonstram que o tratamento com GH aumenta a altura em aproximadamente 1 centímetro por ano de tratamento, em crianças com baixa estatura idiopática. A quantidade que seu filho irá crescer pode variar, dependendo da época de início do tratamento, de como está sua maturação óssea, se os pais são mais altos (tenderão a crescer mais), se os pais são mais baixos (tenderão a crescer menos). Entretanto, o tratamento com o GH possui algumas inconveniências: – Feito somente por aplicação subcutânea, significando 1 injeção todos os dias, que continuará até a conclusão do crescimento ou a obtenção de uma altura considerada satisfatória; – no Brasil, pelo SUS, o GH só é fornecido à pessoas com deficiência de GH comprovada ou que possuem doenças genéticas, como a Síndrome de Turner, por exemplo. Isso faz com que o tratamento fique caro para pacientes com baixa estatura idiopática, situação não coberta pelo SUS; Apesar de favorecer crianças e adolescentes com baixa estatura severa, os benefícios do tratamento medicamentoso para crianças saudáveis e não tão baixas ainda são controversos, já que elas podem, naturalmente, atingir a altura desejada na vida adulta. Portanto: tentar aumentar a altura da criança será um balanço entre os custos e os benefícios do tratamento. Também deverá ser considerado o histórico familiar e se o tratamento melhorar a saúde mental da criança e do adolescente, que podem se sentir prejudicados pela baixa estatura.  Para saber mais: Artigo científico: Short Stature in Childhood – Challenges and Choices. Revista científica: The New England Journal of Medicine. Publicado em março de 2013.

A baixa estatura na infância: desafios e escolhas – Parte 1

A baixa estatura da criança pode ser uma preocupação para os pais. Normalmente, os pais notam que seus filhos são menores do que seus amigos ou então mais baixos que crianças da família que têm uma idade parecida. Além disso, os pais percebem que a baixa estatura da criança se tornou um problema quando seu filho sofre bullying por causa de seu tamanho. Além de querer que seu filho cresça normalmente, os pais também ficam preocupados se a baixa estatura será um problema para a vida social, psicológica e a carreira profissional de seu filho no futuro. A avaliação da baixa estatura de uma criança é complexa e normalmente quem investiga seus motivos é um endocrinologista pediatra. São considerados vários fatores, entre eles: – se a altura da criança realmente está mais baixa segundo padrões ajustados para o gênero, a idade e também a população do país em que vive;  – se a taxa de crescimento (ou seja, o quanto a criança cresce por um período de tempo) está muito devagar;  – qual é a altura de sua mãe e seu pai, e também a altura observada em geral na família;   – as proporções do corpo. O endocrinologista pediatra também poderá investigar se há deficiência de hormônio do crescimento (GH), hipotireodismo, síndrome de Turner ou outras doenças que possam estar inibindo o crescimento da criança. Para chegar a um diagnóstico leva-se em consideração a avaliação da criança no consultório, exames de imagens e testes laboratoriais.  É comum que, após essa investigação detalhada, algumas crianças receba o diagnóstico de baixa estatura idiopática, ou seja, quando não se encontram causas específicas. Duas situações influenciam a baixa estatura idiopática: quando a altura padrão da família é baixa, especialmente a dos pais (baixa estatura familiar) ou quando há atraso constitucional do crescimento e desenvolvimento. Na segunda situação, o padrão da altura familiar não é baixo, a criança apresenta uma idade óssea atrasada e provavelmente apresentará um início tardio da puberdade. Na baixa estatura idiopática, a baixa estatura familiar e o atraso constitucional do crescimento e desenvolvimento poderão acontecer de forma separada ou ao mesmo tempo. A decisão sobre a necessidade do tratamento da baixa estatura e como ele irá ocorrer caberá ao endocrinologista pediatra, em conjunto com os familiares. No próximo artigo vamos falar sobre as opções de tratamentos para crianças com baixa estatura idiopática. Para saber mais: Artigo científico: Short Stature in Childhood – Challenges and Choices. Revista científica: The New England Journal of Medicine. Publicado em março de 2013.

Como é feito o tratamento com GH?

O tratamento com GH é feito através de injeções diárias, aplicadas ao deitar, por via subcutânea (isto é, na gordura) nas coxas, braços, nádegas ou abdome. Não existem preparações em formas de comprimidos, sprays, supositórios ou adesivos.

Quando é recomendado o uso de GH?

O tratamento de reposição (substituição) com GH está indicado em todo indivíduo, independente da faixa etária, que apresente deficiência da produção de GH pela hipófise. A deficiência de GH pode ter início na infância (nanismo hipofisário) ou na vida adulta, consequente, por exemplo, de um tumor da hipófise. Na infância, o GH também pode ser benéfico na baixa estatura em meninas com Síndrome de Turner, em crianças nascidas pequenas para a idade gestacional, nos portadores da Síndrome de Prader-Willi, em crianças com insuficiência renal crônica, entre outros.

Até quantos anos uma pessoa pode crescer?

O crescimento é um processo bastante dinâmico que inicia na concepção e se estende até a vida adulta, ocorrendo em intensidades variáveis nas diferentes fases da vida de uma criança e de um adolescente. Cada pessoa irá crescer enquanto seus ossos tiverem cartilagens de crescimento não calcificadas, independentemente da idade cronológica que ela apresente. O amadurecimento e a calcificação destas cartilagens de crescimento dependem principalmente da puberdade. Tomemos como exemplo dois jovens de mesma idade cronológica, porém em diferentes estágios de puberdade: aquele com um desenvolvimento mais avançado da puberdade provavelmente terá as cartilagens mais calcificadas e mais próximo de parar de crescer do que o outro que está apenas na fase inicial da puberdade. Da mesma maneira, uma menina de 10 anos de idade que esteja com as mamas desenvolvidas, com pêlos pubianos e já apresentou a primeira menstruação deve parar de crescer antes do que uma menina de 12 anos de idade que esteja apenas iniciando o desenvolvimento mamário. Este grau de amadurecimento das cartilagens pode ser avaliado com uma radiografia das mãos e dos punhos para avaliação da “idade óssea”. Há diferença entre meninos e meninas. Nos meninos, a puberdade e o estirão de crescimento começa em média 2 anos mais tarde do que nas meninas. Essa “demora” prolonga o crescimento antes da puberdade, que associado com um estirão mais intenso e um período de crescimento mais prolongado no sexo masculino, resulta que os homens sejam em média 13 cm mais altos que as mulheres.  

Como calcular a estatura-alvo do meu filho?

O crescimento de uma criança é influenciado pelo potencial genético adquirido dos pais, associado a fatores que também agem no crescimento adequado como os fatores nutricionais, ambientais e ausência de doenças crônicas. A estatura-alvo pode ser calculada somando a altura do pai e a altura da mãe, dividindo o resultado por 2. Para as meninas, subtrai-se a este valor 6,5 cm, e para os meninos soma-se 6,5cm. Este resultado será o padrão familiar, desde que os pais não tenham doenças que possam ter afetado o crescimento.

Toda criança com baixa estatura precisa ser tratada?

Na maioria das vezes a criança é baixa, mas é absolutamente normal: a baixa estatura ocorre por ela ter pais baixos ou por ter um crescimento mais lento, mas com uma estatura final normal (próxima à linha inferior do gráfico). Nessas situações, geralmente apenas se acompanha o crescimento. Quando a investigação mostra que a baixa estatura resulta de alguma doença, ela deve ser tratada. São várias as causas de um crescimento deficiente, como desnutrição, erros alimentares, e qualquer doença crônica tem potencial para prejudicar o crescimento normal, incluindo as síndromes genéticas (como nas síndromes de Turner e de Noonan), crianças que nascem muito pequenas e não recuperam seu canal de crescimento até os 2 anos de idade, deficiência do hormônio de crescimento, hipotireoidismo, entre outras situações. Crianças baixas “normais” apresentam resposta variada quando utilizam o hormônio de crescimento, geralmente inferior às crianças com deficiência comprovada. Para a maioria das causas existe um tratamento específico, definido pelo pediatra ou pelo endocrinologista pediatra que a acompanha. Entretanto, há síndromes genéticas que não respondem a nenhum tratamento conhecido até hoje.

O que significa quando a idade óssea está atrasada ou avançada em relação à idade cronológica do meu filho?

A avaliação da idade óssea é realizada para verificar o desenvolvimento ósseo da criança, ou seja, seu grau de amadurecimento ósseo. É feito através do Raio-X de mão e punho esquerdo. Através da idade óssea, pode-se ter uma melhor idéia do tempo que ainda resta para uma criança ou adolescente crescer. A idade óssea pode ser diferente da idade cronológica, nem sempre representando um problema de saúde. O exame geralmente é parte da avaliação do crescimento e desenvolvimento sexual. Idade óssea atrasada até 2 anos, em uma criança que não tem problemas de saúde e cresce bem, significa que a mesma irá atrasar a entrada na puberdade, finalizando o crescimento em idade cronológica maior que as outras crianças. Já, uma idade óssea avançada, é necessário avaliação adequada, pois em alguns casos, pode-se ter uma quadro de puberdade precoce que necessitará tratamento.

Quando uma criança apresenta baixa estatura?

Uma criança tem baixa estatura quando cresce abaixo da última linha do gráfico ou está desacelerando sem motivo, saindo da faixa esperada para sua família. Estas situações devem ser investigadas cuidadosamente pelo pediatra ou endocrinologista pediátrico.

Quais fatores interferem no crescimento?

Nos primeiros dois anos de vida a nutrição é o fator que mais interfere no crescimento. A partir dessa idade os fatores genéticos (como as alturas dos pais) passam a ter maior influência na determinação da estatura da criança. O crescimento também é influenciado pela alimentação, atividade física, doenças, uso de medicamentos e fatores psicológicos